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Foto do escritorCachoeiras Seguras

Segurança depende de todos



Nesse cenário imprudência mata


Cachoeiras e trilhas, dentro ou fora do perímetro de parques, exigem atenção, conhecimento e cuidados. A segurança depende tanto da estrutura e administração desses locais, quanto do comportamento dos visitantes.


No Brasil, inúmeras cachoeiras e trilhas permanecem sem gestão de segurança, mesmo estando dentro de parques e reservas que têm administradores e que muitas vezes cobram entrada. Alguns visitantes, por ignorância ou irresponsabilidade, comportam-se de maneira arriscada, desobedecendo orientações (quando existem), sem observar o nível das águas, escalando pedras escorregadias, permanecendo na beirada, fazendo selfie ou pulando sem conhecer a profundidade abaixo, mergulhando sem saber nadar, atravessando pedras molhadas com chinelo de dedo, saltando pequenos obstáculos ou fazendo brincadeiras arriscadas, fumando baseado ou ingerindo bebida alcoólica, comendo e deixando o lixo para trás, nas cachoeiras. Nas trilhas, também cometem imprudências, como: enfrentar trilhas desconhecidas sozinhos, sem estudá-las, sem informações quanto a distância e clima, sem saco de dormir, isolante térmico, roupas e calçados adequados, sem água potável, sem kit básico de camping, sem examinar onde montar a barraca para o pernoite, abandonando lixo no meio do caminho e sem mapas ou bússola.


Nos comentários a uma postagem na Página #cachoeirasseguras no Facebook tivemos um diálogo muito esclarecedor entre nossos apoiadores, cada um com suas razões expõe a complexidade da questão de segurança e risco na natureza. Reproduzimos, aqui, algumas falas porque vale à pena pensarmos sobre os problemas levantados, todos pertinentes.


Responsabilidade sobre a segurança em cachoeiras


É grande o número de acidentes e mortes em cachoeiras brasileiras. Nem todos os casos são reportados na Mídia e os que são noticiados assustam pela frequência, levantando inúmeras questões sobre responsabilidades: de um lado os Gestores de parques públicos e privados e os profissionais do turismo, e do outro, o comportamento dos visitantes/turistas.


Gestores e Turistas


Em fevereiro-2018, divulgando uma morte por afogamento em cachoeira, levantamos a questão da falta de sinalização e outros procedimentos preventivos. Nossos seguidores fizeram várias observações pertinentes, como: "Em um momento como esse talvez caibam reflexões sobre a adoção de medidas preventivas e Gestão Diária de Segurança. Onde estão os investimentos do Estado que poderiam evitar essa morte e esse caso grave gerador de custos sociais elevados? Quanto vale a sua vida, meu amigo? Ok! O que está sendo feito para evitar essas mortes evitáveis?", disse o engenheiro agrônomo Antônio Pita.


Sabemos que segurança também é responsabilidade da própria pessoa, e uma seguidora da página - Terezinha Souza - levantou esta questão: "Infelizmente não dá pra concordar em clamar por segurança responsabilizando apenas um lado do caminho que tem duas vias, mão dupla. Os turistas, banhistas, aventureiros, esportistas, têm uma grande parcela de responsabilidade no que diz respeito à própria vida e segurança. É dever do Estado e dever do cidadão. Respeito muito suas opiniões, Antônio, apoio sua luta e o engajamento do Cachoeiras Seguras, mas vamos ser justos. Onde está a responsabilidade dos cidadãos? Tenho observado, sigo todas as pastagens e em 100% delas o sistema está sendo culpabilizado e muitas vezes, há uma irresponsabilidade imensa das pessoas que saem de casa para se divertir e se acham superiores à natureza, desafiando-a de maneira absurda. Vi muita imbecilidade e desrespeito."


A Campanha Cachoeiras Seguras divulga alertas chamando a atenção ao fato de que as responsabilidades com segurança são de todos. Como diz Virgínia Miranda: "Os turistas ou banhistas são também responsáveis pelos próprios comportamentos e em postagens na Página #cachoeirasseguras (Facebook), como a do dia11.Fev.2018 sobre o afogamento e morte de 2 rapazes em Morretes/PR, alertamos primeiro sobre uma regra básica de segurança : "só entre em uma cachoeira, lago, piscina ou mar, se souber nadar! Sinalizar estes locais também é básico"... Vemos de fato muitas pessoas com atitudes de risco, do básico que é não saber nadar à ingestão de bebidas e drogas, malabarismos, saltos etc. Uma combinação trágica, né? Mas, existem os perigos em ambientes inóspitos. E a falta de sinalização e controle... ainda piorando tudo. As mortes estão aí para provar que não dá certo!"



Álcool, drogas e vandalismo em cachoeiras e trilhas


Comportamentos inadequados em cachoeiras (do ponto de vista da segurança) são inúmeros e vão do desconhecimento dos perigos com águas correntes e pedras escorregadias ao vandalismo. Terezinha Souza continuou argumentando com base em sua experiência em cachoeiras e trilhas em Minas Gerais, um dos Estados brasileiros com alto índice de turistas: "Imagina! Eu vi adultos carregando caixa de isopor na cabeça, cheia de latinha de cerveja, descendo pelas pedras, vindo pela trilha de trás da cachoeira pra escapar da vigilância. Com chinelo de dedo, várias latinhas já consumidas. E com crianças e adolescentes nos grupos. Tentar chamar esse povo à razão é difícil demais. Na cachoeira em São José da Serra/MG é proibido o consumo de bebidas alcoólicas na cachoeira. Os banhistas burlam a vigilância, levam cerveja, consomem e ainda deixam o lixo pra trás".


Precisamos ter clareza e ver as diferenças entre vandalismo e comportamentos arriscados devido a desconhecimento e/ou ignorância. Nesse sentido, Antônio Pita argumenta: "Se todos esses desvios são visíveis e detectáveis, então perguntamos: que providências estão sendo tomadas para evitá-los? Quem pode agir? Quem deve agir? Como agir? O que é o certo? Deixar correr solto ou assumir o controle? Se um cidadão, um Guia viu uma irregularidade e deseja tratar do assunto, onde e como fazer isso? Quanto aos turistas, banhistas, aventureiros, esportistas sem noção que deveriam ter uma grande parcela de responsabilidade no que diz respeito à própria vida e segurança, todos nós sabemos o que é possível fazer. Podemos educar, orientar, instruir ou multar, punir, proibir, deter; conforme o caso. O que mais pode ser feito? Nada fazer não é opção. A opção é de fazer alguma coisa. E quem deve fazer isso? De quem essa Campanha pode e deve cobrar atitudes?"



Controle em áreas onde existem restrições de comportamentos


A responsabilidade pela gestão de parques (que inclui planejamento, fiscalização e proteção) é do Gestor, continua Antônio Pita: "Na Página (Facebook) existem vídeos, textos e imagens mostrando e caracterizando a falta de noção e suas consequências para tentar orientar o maior número de pessoas possível. Nas escolas e nos empreendimentos segurança é responsabilidade de gestores e autoridades. Estamos cobrando isso o tempo todo. O que eu posso sugerir é chamar a polícia, quando observar delitos e delinquentes. Já em processo de evolução, sugerimos a Gestão Diária de Segurança Local no empreendimento. Os visitantes e frequentadores devem tomar cuidado e ajustar o seu comportamento. Sempre! Contudo, o que é verdadeiramente inadmissível é que o comportamento de visitantes seja usado como desculpa para gestores e autoridades nada fazer pela segurança dos visitantes inocentes, vítimas clássicas das ocorrências. Veja que eu falei de visitantes e não de invasores e de outras anormalidades que devem ser combatidas por todos, inclusive e principalmente por gestores e autoridades por força de ofício. Eu não sou a favor de drogas, impunidade e vandalismo. Bem pelo contrário, eu sempre digo que gestores e autoridades devem agir e coibir de alguma forma o mal comportamento, estudando cada caso e propondo medidas rigorosas e efetivas. Onde estão?"



Regulações, punições e proteção


A maioria dos acidentes graves e das mortes em cachoeiras e trilhas não estão relacionadas a comportamentos de vandalismo ou a drogas e álcool, esses são agravantes que ampliam os riscos nesses locais, mas, como bem argumenta Antônio Pita: "Muito além, deve ser observado que em sua maioria, as ocorrências evitáveis, pauta da campanha (Cachoeiras Seguras), não têm qualquer vínculo com drogas e desleixo de frequentadores abusados, sujões e mal educados. Nessas ocorrências vemos vítimas típicas do descaso, por absoluta e comprovada falta de Gestão de Segurança nos empreendimentos. As exceções não descaracterizam a regra. Talvez eu não tenha me feito claro, então, enfatizo que a parte da culpa que cabe ao visitante infrator deve sim ser combatida com rigor. Eu não sou conivente com bêbados, drogados, invasores e outros tipinhos que devem ser combatidos e punidos. O objetivo da Campanha Cachoeiras Seguras é superação, com benefício para todos."


"O número de ocorrências no Brasil é por demais elevado e lutamos por dias melhores em trilhas e cachoeiras, mas entenda, nem tudo é questão de culpa e sim de ofício, atribuição, cargo, responsabilidade objetiva. Quando uma propriedade é invadida pelos fundos por alcoólatras e drogados, a culpa da ação invasiva não é do gestor, mas o combate, a reação, com estudo do caso e proposição de medidas preventivas é responsabilidade dele sim, objetivamente. Com certeza a responsabilidade pela Gestão de Segurança não é do invasor. Sim! Eu cobro dos gestores e das autoridades a Gestão de Segurança. Nada impede que outros colaboradores lancem novas ideias." - Antônio Pita



Comportamentos de risco e conscientização


"Somos de natureza imprudente e aventureira, nos arriscamos muito. É assim no trânsito, nas escaladas, no esquiar, na canoagem, no surfe, a lista é grande" diz Jacqueline Vale de Paiva.


O ideal seria apostar em campanhas de conscientização, voltadas principalmente para os jovens, sobre perigos que existem na natureza. Assim como temos campanhas educativas para o trânsito nas cidades e para direção nas estradas, são necessárias campanhas focadas nas atividades em ambientes naturais: "Muitos de nós somos aventureiros, alguns desbravadores natos, outros especialistas, mas a grande maioria dos turistas hoje em dia não nasceu nessa região (em áreas rurais), não sabe se comportar nessas condições, não conhece e está vulnerável a toda sorte em trilhas e cachoeiras diversas no Brasil. Motivo pelo qual somos visitantes inocentes e precisamos da boa Gestão de Segurança para sairmos vivos e felizes do empreendimento. Campanha útil e boa para todos. Em todos os ramos por ti citados (Jacqueline V. Paiva) existem regras e Gestão de Segurança. Precisamos da boa Gestão de Segurança em todos os parques com trilhas e cachoeiras no Brasil", completa Antônio Pita.


No trânsito, o ímpeto e a desobediência são inegáveis e são o foco dos alertas das autoridades: "Nosso maior problema consiste na desobediência, somos campeões em infração (especificamente no trânsito, área que tenho algum conhecimento). Vi muitos acidentes com vítimas e agressões no trânsito. Optei por não mais dirigir. É lamentável!", diz Jacqueline Vale de Paiva.


Como diz Antônio Pita, segurança depende muito de uma boa administração pública que aborda não só as proibições, mas também a educação: "A Campanha Cachoeiras Seguras pretende superar a falta de confiança no setor, propondo dentre as várias frentes de atuação, a Gestão Diária de Segurança nos empreendimentos abertos ao público, visando recuperar a boa imagem, quando verdadeira, e estimular o turismo com muito mais segurança para os visitantes na natureza. Eu acredito que a nossa sociedade é capaz de se organizar, agir, reagir e alcançar dias melhores para todos em trilhas e cachoeiras no Brasil. Todos os depoimentos e ponderações são importantes nessa Campanha. As observações da Terezinha Souza e da Jacqueline Paiva são fundamentais para a boa Gestão de Segurança que propomos, cientes de que a educação é a base de tudo em uma nação. A Educação e a Segurança caminham juntas em um processo contínuo de evolução, atuação e atualização."



Problemas fundamentais e problemas circunstanciais


Não existem heróis quando se presa a profissão. O descaso com as vidas humanas no setor do Turismo de Aventura e a falta de gestão primária de segurança é permissiva por omissão e abandona a toda sorte uma porção significativa de pessoas sem noção, sem preparo, sem instrução, sem perfil para o contexto ruaral, sem capacidade de responder por si, mas com liberdade para produzir efeitos catastróficos nas trilhas e cachoeiras que, por conseguinte, carecem de heróis para resgate e salvação.


Não vamos desviar o foco diante do grande número de ocorrências graves e fatais em cachoeiras no Brasil. Isso é sintoma de má gestão, de descaso com as vidas humanas na administração de parques públicos e privados. Consumir drogas e álcool ou ter qualquer outro comportamento inconsequente não é certo e esses comportamentos devem ser combatidos até para garantir a segurança dos OUTROS.


Mas, seria deveras injusta a vinculação de comportamentos individuais com as inúmeras ocorrências de mortes em trilhas, cachoeiras e praias brasileiras. A maioria dessas mortes resulta da falta de sinalização, da falta de gestão, da falta de planejamento e métodos de avaliação e prevenção de riscos. Administradores e governo são responsáveis.


Campanhas educativas visando a preservação do meio ambiente são realizadas eventualmente no Brasil, necessitam de constância e abrangência, assim como, diante do crescimento do Turismo de Aventura, a segurança na Natureza também carece de campanhas efetivas. Manter o ecossistema original não é simplesmente agradar a ecologistas, é preservação e segurança também, da mesma forma que é segurança pensar duas vezes antes de agir inconsequentemente na natureza.




foto: Fernanda Pieruzzi

Sinalização é o item mais simples e barato das medidas de segurança e mesmo isso não é feito, ou não é mantido, ou é precário em nossas trilhas e cachoeiras. É mais que urgente administrações que contemplem a questão em sua totalidade, com reconhecimento de áreas, mapeamentos, estratégias, proposições, sede e recepções, centros de informações, painéis de proibições e permissões, assim como projetos e campanhas educativas.


Naturalmente existem trilheiros experientes e acostumados a caminhadas solitárias, mas a grande maioria dos turistas que se aventuram na natureza precisam de guias que conheçam a região e dominem os dispositivos de atendimento emergencial. Precisam de Gestão de Segurança.



imagens: under CC0 License, exceto a foto de Fernanda Pieruzzi no Chile

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